terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
O termo inicial da prescrição da pretensão de reparação de danos causados por liminar concedida e posteriormente revogada é a data do trânsito em julgado da correspondente ação de conhecimento
Imagine a seguinte situação
hipotética:
João decidiu construir um segundo
piso (segundo andar) em sua casa.
Em março de 2007, quando a obra
estava quase pronta, Pedro, vizinho de João, ingressou com uma ação de
nunciação de obra nova, pedindo que as janelas sejam removidas.
O autor alegou que as janelas
construídas permitem a visão direta do interior da sua casa, violando a sua privacidade
e o art. 1.301 do Código Civil.
Ação de nunciação de obra
nova
A ação de nunciação de obra nova
serve para impedir que seja executada ou concluída uma construção que viole:
• as regras sobre direito de
vizinhança (previstas no Código Civil);
• as normas municipais sobre
construções; ou
• as limitações administrativas
impostas sobre a propriedade particular.
Liminar foi concedida
O Juízo deferiu a medida liminar,
determinando que João pare imediatamente a obra e remova as janelas.
O réu foi obrigado a cumprir a
ordem judicial em 05/06/2007, causando atrasos e prejuízos em sua construção.
Em novembro de 2010, o processo
foi sentenciado.
O juiz confirmou a liminar e
julgou o pedido procedente.
Sentença reformada pelo TJ
João interpôs apelação.
O Tribunal de Justiça concordou
com os argumentos do réu e reformou a sentença, decidindo que ele tinha direito
de construir as janelas porque não ficou comprovada a violação ao art. 1.301 do
CC.
Com a decisão do TJ, em 25 de
maio de 2012, a obra foi retomada.
Pedro ainda recorreu para o STJ,
mas seu recurso não foi conhecido e houve o trânsito em julgado em 16 de
setembro de 2015.
Ação de indenização
proposta por João
Em março de 2017, João ingressou
com ação pedindo indenização pelos prejuízos que sofreu durante o período em
que a obra ficou paralisada por causa da liminar que depois foi revogada.
O Juízo, contudo, entendeu que a
pretensão estava prescrita.
Segundo argumentou o magistrado:
- o prazo prescricional é de 3
anos (art. 206, § 3º, V, do CC);
- esse prazo se iniciou na data
em que a obra foi retomada (25 de maio de 2012);
- como a ação foi proposta em
2017, já havia passado o prazo de 3 anos.
O STJ concordou com o
entendimento do juiz a respeito do termo inicial da prescrição?
NÃO.
O termo inicial da prescrição é a
data a partir da qual passou a ser possível exercer a pretensão.
No caso, João somente poderia
pedir a indenização por perdas e danos quando ocorreu o trânsito em julgado da
ação na qual a tutela provisória foi concedida e depois revogada.
Somente com o trânsito em
julgado, momento em que não seria mais possível a reversão do acórdão que
revogou a tutela provisória de urgência, é que se pode falar em reparação de
danos.
Desse modo, deve ser considerada
como termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento da ação de
reparação de danos - cujo lapso prescricional é de 3 anos (art. 206, § 3º, V,
do CC) - a data do trânsito em julgado da ação de nunciação de obra nova.
Em suma:
O termo inicial da prescrição da pretensão de
reparação de danos causados por liminar concedida e posteriormente revogada é a
data do trânsito em julgado da correspondente ação de conhecimento.
STJ. 4ª
Turma. AgInt no AREsp 1.725.366-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado
em 23/9/2024 (Info 23 - Edição Extraordinária).
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